quarta-feira, 7 de abril de 2010

Elis Regina

Certo dia, perguntaram-me qual música, das quais Elis cantava, eu mais gostava.Confesso que, por gostar tanto de Elis, nunca havia me perguntado isso e , vou além, acho difícil apenas uma seleção. Sou formada por trechos, pequenas composições, grandes clássicos, até marchinhas de carnaval.
Seria mais fácil reunir os fragmentos e torná-los uma música sem rima, ou melhor, um poema recortado. Ora, tantos poetas assim fizeram e foram aclamados. Não sou poeta, não pretendo ser aclamada, mas gosto de Elis e acredito ser um bom trabalho para aqueles que também gostam.

Acender as velas/ Já é profissão/ Quando não tem samba/ Tem desilusão - Acender as velas (Zé Kéti)
(Eu, pequena, acordando domingo de manhã na minha antiga casa - como chovia!)

Mas ovelha negra me desgarrei, o meu pastor não sabe que eu sei/ Da arma oculta na sua mão - 
Agnus Sei (João Bosco/Aldir Blanc)


Aquilo que já fez calo/ Doeu feito joanete/ Castigou nosso cavalo/ Cortou como canivete/ Feriu, mexeu, mixou/ Nunca comeu melado - Agora tá (Tunai/ Sérgio Natureza)


Quando brotarem as flores,/ Quando crescerem as matas,/ Quando colherem os frutos,/ Digam o gosto pra mim... - Aos nossos filhos (Ivan Lins/ Vitor Martins)


Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague/ se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são/ O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação/ Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver - As aparências enganam (Sérgio Natureza/ Tunai)


Eu queria ser feliz/ Invento o mar/ Invento em mim o sonhador - Cais (Milton Nascimento/ Roberto Bastos)


Doce suplício do amor/ Faquires tiram partido da dor/ Que dá lembrar dos olhos dele. - Calcanhar de Aquiles (J. Garfunkel/ P. Garfunkel)


Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir/ E ao chegar em casa encontrar a família sorrir - Canção do sal (Milton Nascimento)


Em volta do fogo todo mundo abrindo o jogo/ Com tudo que tem pra contar/ Casos e desejos coisas dessa vida e da outra/ Mas nada de assustar/ Quem não é sincero sai da brincadeira correndo pois pode se queimar - Caxangá (Milton Nacimento/ Fernando Brant)


Porém, existem duas músicas que me acompanharam na adolescência inteira (ainda sou jovem...rsrs) que eu não poderia deixar de citar - e inteiras.




Lá vinha o bonde no sobe-e-desce ladeira
E o motorneiro parava a orquestra um minuto
Para me contar casos da campanha da Itália
E do tiro que ele não levou
Levei um susto imenso nas asas da Panair
Descobri que as coisas mudam
E que tudo é pequeno nas asas da Panair
E lá vai menino xingando padre e pedra
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo o fruto
Sem nenhum pecado, sem rancor
O medo em minha vida nasceu muito depois
Descobri que minha arma é
O que a memória guarda dos tempos da Panair
Nada de triste existe que não se esqueça
Alguém insiste e fala ao coração
Tudo de triste existe e não se esquece
Alguém insiste e fere no coração
Nada de novo existe neste planeta
Que não se fale aqui na mesa do bar...
E aquela briga e aquela fome de bola
E aquele tango e aquela dama da noite
E aquela mancha e a fala oculta
Que no fundo do quintal morreu
Morria cada dia dos dias que eu vivi
Cerveja que tomo hoje é
Apenas em memória dos tempos da Panair
A primeira Coca-cola foi
Me lembro bem agora, nas asas da Panair
A maior das maravilhas foi
Voando sobre o mundo nas asas da Panair
Em volta dessa mesa velhos e moços
Lembrando o que já foi
Em volta dessa mesa existem outras
Falando tão igual
Em volta dessas mesas existe a rua
Vivendo seu normal
Em volta dessa rua, uma cidade
Sonhando seus metais
Em volta da cidade...
(Conversando no bar - Milton Nascimento/ Fernando Brant)

Meu coração tropical está coberto de neve,
mas ferve em seu cofre gelado,
a voz vibra e a mão escreve mar
bendita lâmina grave que fere a parede e traz
as febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais.
Roseirais, nova Granada de Espanha,
por você eu, teu corsário preso,
vou partir a geleira azul da solidão e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar, procurar o mar.
Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
meu coração tropical partirá esse gelo e irá
como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar
nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar.
Vou partir a geleira azul da solidão e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar, procurar o mar.
Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
meu coração tropical partirá esse gelo e irá
como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar
nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar.
Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
meu coração tropical partirá esse gelo e irá.
(Corsário - João Bosco/Aldir Blanc)
Essa última, aliás, todos os meus alunos conhecem, principalmente quando falamos de Expansão Marítima. Alguns até já cantam...